Novo “Eu Sei o Que Vocês Fizeram” falha ao honrar legado

Quando o original “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” estreou em 1997, os slashers adolescentes dominavam as bilheterias. “Pânico” havia revitalizado o gênero um ano antes, e a fórmula de jovens bonitos sendo perseguidos por assassinos encapuzados invadia os cinemas. Agora, em 2025, sua sequência tardia chega numa era saturada de remakes e reboots.
A premissa permanece quase idêntica. Um grupo de jovens se reúne para celebrar um casamento, mas a festa vira tragédia quando um carro despenca de um penhasco após desviar de alguém que brincava no asfalto. Com medo das consequências, juram silêncio sobre o acidente, mas um ano depois começam a receber a famosa carta: “eu sei o que você fez no verão passado”.
Diferente de “Pânico”, o filme original nunca existiu para comentar o gênero cinematográfico. Feliz no simples, conquistou o público dosando mistério e drama de forma eficaz, criando momentos icônicos que resistem até hoje. A versão de 2025, porém, parece incapaz de sobreviver sozinha, injetando referências forçadas ao antecessor.
O novo elenco praticamente espelha o quarteto original. Ava (Chase Sui Wonders) representa a Julie de Jennifer Love Hewitt; Danica (Madelyn Cline) ecoa a Helen de Sarah Michelle Gellar; Teddy (Tyriq Withers) evoca o Barry de Ryan Phillippe. Se não fosse o retorno dos sobreviventes Julie e Ray (Freddie Prinze Jr.), poderíamos chamá-lo simplesmente de reboot.
Como Laurie Strode no revival de “Halloween”, Julie agora trabalha como psicóloga especializada em traumas e é arrastada de volta à sua cidade natal quando novos jovens recebem o bilhete familiar. Assistir ao filme é como admirar um móvel restaurado: tem cheiro de novo, mas as imperfeições ainda são visíveis.
Mesmo com proposta de inovação falha, o longa não chega ao desastre total porque parte da nostalgia funciona. Há algo encantadoramente perturbado nesse fanservice hiperespecífico, que atrai uma parcela do público com a confiança de que todos entendem as referências.
A dupla Ava e Danica cativa, e a forma como o roteiro une os novatos com Julie e Ray é aceitável. O casal, que se casou e divorciou ao longo dos anos, lida de formas diferentes com os traumas passados, e essas consequências movem a narrativa – uma decisão que dividirá os fãs, mas que encontra a “inovação” buscada.
Como homenagem, o filme funciona por não fazer do fanservice sua única razão de existir. Mas ao tornar o original sua peça mais importante, o equilíbrio necessário para um reboot desmorona. Quando sua maior revelação falha, era melhor não sabermos o que aconteceu no verão passado.
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